Um dia partirei. Partirei sem deixar qualquer traços e evidências.
Desse lugar, desse mundo, dessa dimensão ou realidade.
Serei lembranças. Lembranças pra muitos ou pra poucos, pra quem se importar em se esforçar com o trabalho árduo da memória.
Serei lembranças. Pura lembrança em meio a ação do tempo.
O tempo, imperdoável vilão, cruel e destruidor, hábil ladrão de vidas, histórias e esperanças. Passa silenciosamente como uma faca por todo seu corpo e, pior que isso, sem perceber, quem segura a faca é você, provocando sua ação nos mais próximos.
Fugitivo desse assassino, percebo que ele sempre esteve comigo.
Serei um clandestino, ilegal, forasteiro em uma realidade em que não exista o tempo nem a dor por ele causada. Quebrarei as correntes que me seguram a este mundo e me infiltrarei nesta realidade perfeita, em que o tempo nunca tenha existido.
Está escuro.
Será que um dia deixarei o tempo agir sobre os outros, fazendo com que se lembrem de mim?
Só o tempo irá dizer.
Ah, o tempo...
